domingo, 4 de fevereiro de 2018

Sábados 

Nunca percebi o funcionamento dos Sábados, havia Sol e musgo nas unhas, 
Uma merenda obrigatória que nos chamava com voz de queijo e marmelada 
E lá tínhamos que descer desde as fragas, isto antes dos mundos pixelizados 
E da fome a cuequinhas molhadas, podia ir-se ao pão, o carteiro não deixava 
Nenhum postal do Brasil ou da França, os sinos não tocavam e no quiosque 
A certeza de uma banda-desenhada depois da mesada de mais uma semana 
Acumulada a saliva engolida nos intervalos, a vontade de catequese nenhuma, 
Agora poucos Sábados são no fim-de-semana, continuo a não perceber 
A sua utilidade, mais um dia, para levar todos os irmãos passados ao esquecimento 
Num último, já não vejo televisão, os filmes tornaram-se numa imitação confortável de vida, 
Repetições atrás de repetições, engrossando os contornos dos padrões, 
Nada de novo, se não se derrete manteiga num sofá ressacado, 
Prepara-se um domingo sem deus, como todos os dias, 
Nunca percebi o funcionamento da vida no geral, não só dos Sábados, 
Cheguei aqui por acumular incertezas, agora não passo de um saco cheio, 
Um buraco negro massivo, procurando a alma em mais um copo vazio. 

Turku 

03.02.2018 

João Bosco da Silva 

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