quarta-feira, 22 de março de 2017

Acordar Cedo Tarde

Começam a ser difíceis as braçadas no emaranhado de cabelos brancos,
Até fome daqueles cabelos queimados que o barbeiro barria para um buraco negro,
Depois do espelho de manhã, antes do café, depois da descida da concentração
Filtrada de uma alma amarelecida e cirrótica, o dia não interessa,
A varanda basta para um reconhecimento universal, as estrelas lá estarão à noite,
Não é preciso mergulhar nelas para se sentir o abismo envolver a nossa insignificância,
Acordar como quem morre depois de ter vivido tudo, acordar com as mão vazias,
Com uma fome sem vontade de abrir boca, com os dedos trémulos salpicar
Salmos nas teclas pegajosas ainda com os olhos salgados dos sonhos vívidos,
Noutra vida, talvez, noutra vida quando nem esta se tem de verdade
E cada dia gasto à espera do Sol poderá ser o último amanhecer,
Entretanto colecionam-se manchas na pele, e dores esquisitas que nem
Se sabe ao certo onde moram, nem de que terra são, todas filhas da passagem.

22.03.2017

Turku


João Bosco da Silva

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