quinta-feira, 26 de maio de 2016

Perdição De Jerónimo Bosch

Estou perdido, o aço japonês pede-me ao menos a salvação da honra,
Mas ficou-me esquecida na mesma gaveta onde deixei a fé,
Pedia só mais um pecado à beira do abismo onde fomos paridos
Para extinguirmos uns quantos antes do suicídio dar resultado,
Dá-me a mão, suja, o quer que seja, um olhar com um pingo de vontade,
Uma corda que não seja à volta do pescoço, estou perdido numa cidade longe,
Num corpo estranho, num ano quase impossível que um dia futuro,
Ao menos grilos na erva seca de uma noite de escorpiões
E tendas à espera dos amigos perdidos e das punhetas ressuscitadas,
Só a barba cresce e os cabelos brancos e o potencial para fracassar,
Campónio, sim, campónio, em liberdade nesta prisão a céu aberto,
Neste berlinde cósmico, estou perdido neste saco de estrume por abrir.

Turku

25.05.2016


João Bosco da Silva
Ela

Ela passa com mil pés, nádegas de todos os tamanhos e feitios,
Marcando passos em todas as direcções,
Vai-se a rir, a fumar, lambe um gelado, fala com alguém ao seu lado,
Vai só, tem os olhos de todas as cores e leva com ela todos os sonhos,
Todo o prazer, basta uma palavra.

Turku

25.05.2016


João Bosco da Silva