sábado, 7 de maio de 2016

Quantas Vezes Me Vim Com Medo

Só não se cura o desencanto, aquele que é o abandono cicatrizado,
Quantas vezes me vim com medo, fugi daqueles úteros férteis
Em promessas de casa de banho, desperdicei no chão o castigo
Dos deuses que não veio, tremi à luz das velas sem medo de cemitério,
Desviei-me das curvas perigosas dos lábios sibilantes,
Contudo o desencanto um dia chega a todos,
Uma luz verde que se apaga, uma boca que pede demasiada presença
Onde alguém se perdeu tantas vezes, a sede dos dias quentes
Sem início traz de volta os sonhos incompletos
Entre o aperto dos olhares pedintes e a boca aberta em chamas,
Rasga-me novamente, tem pena de mim.

07.05.2016

Turku


João Bosco da Silva
Castelo Em Ruínas

Quando olhares para um velho, não vejas as rugas na cara,
As cataratas nos olhos, a lentidão na marcha, o cheiro à morte,
Ao cansaço, ao sono e ao mijo cristalizado dos anos,
Olha e vê um castelo em ruínas, coberto de silvas e ervas,
Algumas flores silvestres, uma torre ainda imponente
Com vista para o horizonte passado, o reflexo de umas
Muralhas um dia o dobro da altura que têm hoje,
Uma cisterna que matou a sede a tantos,
Podes ver os nós dos dedos, esses a árvore centenária
Que resistiu ao esquecimento e aos cercos da solidão
No Inverno, vê os sonhos inquebráveis nas pedras
Que tombaram no fosso antes da entrada
Onde entrarás se arriscares um sorriso e aí se tiveres sorte,
Viajaras no tempo e serás mais jovem
Que as nuvens que hoje a noite escondeu.

04.05.2016

Edinburgo (Grass Market)


João Bosco da Silva