segunda-feira, 12 de janeiro de 2015



Eu Monstro


"Direi da minha vida
não é plena mas contém-me."

Sebastião Alba


Tenho em mim a ressaca de todos os livros que li,
Não culpem a inocente cerveja do arraial,
Não sou má pessoa, mas sei que a gente é ruim,
E lá no fundo só esperam um aberta para te foderem,
Dizem-me paranoico, eu digo que tenho memória,
Vão perguntar ao Kurt enquanto engole toda a dor
Na eternidade, em forma de chumbo derretido,
Nada melhor para as cãimbras da madrugada do que
Uma violência dirigida ao alvo de toda a realidade,
O corpo que a constrói e que se gasta no processo,
O Rimbaud escrevia entre galinhas, outros escrevem na
Companhia dos figos e das recordação agarradas aos muros
Cansados das longas ausências, nunca te vendas
Ao ponto de deixares de te poder dar sem interesse,
Evita a missa e ri-te dos hipócritas das procissões,
Hoje não é a lucidez que fala, mas o pó acumulado
Ao longo dos anos que se levanta, ganha formas no ar,
Espadas, reis, outros homens de barba, fantasmas,
Delírios de aldeia, quantos pecados devem ter alguns
Devotos, para se verem na necessidade de levarem
Um golden shower de um padre pestilento e hipócrita
Como as fundações da moral cristã, que sujos
Se devem sentir para se levarem no esperma
Amaldiçoado do homem de deus dos homens mascarados,
O deus das figueiras e das galinhas não perdoa,
Nem chega a condenar, limita-se a não existir
Na certeza de que o amanhã não será geral,
Tal como a ressaca e os suores nocturnos dos perdidos.

Torre de Dona Chama

09.08.2014


João Bosco da Silva