sábado, 21 de dezembro de 2013

Chocolate Starfish And The Hot Dog Flavoured Water

Ela julgava-se especial com o seu vestido transparente, à entrada da porta aberta num dia de Sol em Agosto,
Eu convencido de que não queria saber de mais nada além daquela silhueta, já tinha provado a rata fresca
Da amiga da minha irmã e manchado as páginas do Hemingway com o sumo da sua puberdade,
Ela julgava-se especial, eu convencido de que o mundo orbitava à volta do seu sorriso desmaiado,
A luz a despi-la nos meus olhos torturados por tanta punheta e rima forçada, até torres caíram
E ainda o Frodo não tinha saído do Shire, as mãos dela nas minhas, na sala escura protegida da canícula
E a fábrica a sobrecarregar uma líbido de cão de inferno, se ao menos na altura eu soubesse o significado,
Ou pelo menos o sabor daquele significado, as palavras que juntos ouvíamos, ela que se julgava tão
Especial e eu tão encolhido, invaginado ao ponto de me poetizar, o início de uma descida ao pântano
Dos nados impossíveis despejados em vazios desconhecidos, das palavras disparadas em convulsões
Silenciosas nas gargantas gorgolejantes, contra os peidos de cona e os desconfortos anais das
Submissões anónimas e a água a escorrer, a dor vertida numa vingança sublimada e traduzida para a língua da língua,
Inocentes, ela julgava-se especial, eu não me julgava nem me conhecia, tinha papilas gustativas
Inexperientes, desconheciam a estrela de chocolate, ao Sol e eu sem saber que a sede não era de mãos
E carícias inocentes, mas daquilo que o mar não dá, só a terra e o desejo inocente de um pouco de inferno,
Com o epicentro longe do cataclismo das noites passadas à procura dos futuros perdidos nos esfíncteres
Alheios, tudo se torna claro e belo, chocolate starfish and the hot dog flavoured water, o meu amor
Induzido, subliminar, entre olhares vestidos de inocência e jogos de cartas para diluir a verdadeira natureza do poeta.

Seia

09-12-2013


João Bosco da Silva
Arte De Te Beber

Podia dizer-te que te quero abrir como uma garrafa de vinho, depois de estudar o teu rótulo,
A tua origem, o ano da tua colheita, abrir-te lentamente e deliciar-me com a tua abertura,
O som da rolha de cortiça a sair da garrafa e a deixar o aroma encher o ar, deixar-te respirar,
Respeitar a tua cerimónia, podia dizer-te isso tudo e colocar um pouco de ti no copo certo,
Agitar-te levemente, cheirando-te, procurando o teu tom único, a tua transparência e provar-te,
Mastigar-te com suavidade, podia mentir-te, mas o vinho encerra verdade, por isso te digo
Que a vontade é de te abrir como puder, e sem um saca rolhar, enfiar a rolha para dentro da
Garrafa e engolir-te de pernas para o ar, sem te saborear, não te quero estudar, tenho sede
De ti, quanto ao rótulo, deixar dele uma mancha de cola, restos de papel arrancados com as
Unhas, como se faz às garrafas da cerveja quando se tenta adiar mais um cigarro, quero beber-te
No desespero da solidão, não te quero partilhar com mais ninguém a não ser com a madrugada,
E engolir, engolir-te toda até deixar de me sentir eu e triste, até conseguir adormecer
Contigo toda dentro de mim, sabendo que vou acordar com a cor da tua pele nos meus lábios
E a tua presença pesada onde dizem que habita o amor, não consigo beber-te de outra forma,
Podia mentir-te, mas o vinho como tu, deve beber-se com verdade e antes de ficar vinagre.

18-12-2013

João Bosco da Silva


Coimbra