domingo, 17 de fevereiro de 2013


Eucaliptos Em Earls Court E Outras Sublimações Desnecessárias

Espero que venha, mas são sempre as mesmas palavras quando chegam, as imagens limitadas
Que se foram acumulando na originalidade vazia, lá fundo cheira a eucaliptos e a fronteira,
Entre um ser e um ter, vai-se perdendo um verbo pelo outro e quanto mais se tem menos se é,
Mais longe se está dos Verões de estradas infinitas rasgando montes e linhas que só nos mapas,
Já não se tenta, espera-se, não se força, deixa-se vir, quando a vontade desistir, quando a
Resistência ceder ao peso do lixo dos dias, sacode-se aquele pequeno-almoço tardio
Em Earls Court à espera do fim de uma solidão maior, como se sacudiram as palavras
Que hoje parecem sintomas de uma cerveja demasiado cedo, ainda tenho a minha cara
Dos teus olhos pelos teus dedos dentro daquele livro do Bukowski e aquele momento
Que hoje tão morto, tão gasto, na estação de São Bento, sei que te lembras, mas não sentimos
Mais, choraste nesse dia de Sol, como choraste na manhã de insónia em que me contaste
Que te tinham entrado e as palavras a tornarem-se em unhas, a apertar algo cá dentro,
No fundo um nervo chato apenas, ácido clorídrico a mais, espero que venha e que lave isto tudo,
Já não sei esperar, esperar exige esperança, limito-me a engolir o desespero e a certeza
Da perdição, um fim é um fim, um pouco de sujidade de unhas talvez, que se guarda como
Uma relíquia, mesmo tendo sido amargo muitas vezes, deixa-se cair uma chuva ao contrário,
Como se o céu em sintonia com a cadência dos dedos, a dor dos hemisférios, os gritos
Harmoniosos que se desfazem em ecos pelos montes, onde vinhas esquecidas,
Saudosas de tempos melhores, porque passados e nunca se viveu tão bem vivendo-se tão mal,
Fecham-se os olhos, não merecem o abuso que a solidão lhes obriga e procuram o aroma
Dos eucaliptos e da fronteira, fluída, fria, um salto de criança ao alcance da inocência ingénua.

17.02.2013

Turku

João Bosco da Silva