sexta-feira, 29 de março de 2013


“Territorial Pissings”


“I´m still alive
and have the hability to expel
wastes from my body.
and poems.
and as long as that´s happening
I have the ability to handle
betrayal
loneliness
hangnail
clap
and the economic reports into the
financial section”

Charles Bukowski
Mais um depósito de olhos fechados e a confusão será toda tua, escondida no fundo dos teus excessos,
Cuspida pela convulsão dos teus sonhos pintados a verniz colorido e espera-se um amanhecer diferente,
Dos que prometem outra coisa além da noite, um dia eterno, de olhos cegos pela luz indiferente
Ao segredos que fermentam na fossa séptica desesperados por uma foda séptica que lave a alma
E o orgulho intranquilo da roupa interior manchada pelo pagamento à ingratidão altruísta dos
Corações de ouro e esperma azedo, começa-se num capítulo e acaba-se num desperdício de páginas
E páginas só por uma capa colorida, prometendo tudo menos o vazio que esconde, o verniz estala
E as unhas crescem depois dos olhos fechados e fica apenas, o nada que foste, um saco vazio, agora inútil
Onde foi despejado o tédio de uma terceira idade pervertida pelo valor dos anos queimados na lareira
Dos enganos, despe-te de tudo e não serás mais do que aquilo que trocaste pelo que vestiste, nada,
Os olhos não enganam, e a colher que os arranca por nojo, acolhe a sopa com mais pureza, enquanto
A chama aquece a libertação, como uma morte que se aceita de veias abertas e coração perdido
Pela confrontação com os verdadeiros contos de fadas, pede-te a um mendigo, pode ser
Que ele tenha um pedaço do que foste e te ofereça, sem esperar de ti um pouco do teu vazio,
Um pouco da liberdade verdadeira, aquela que julgaste encontrar ao te abrires às portas do inferno.

29.03.2013

Turku

João Bosco da Silva

quinta-feira, 21 de março de 2013


“Viagem Ao Fim Da Noite”

O bidão onde o cão dormia e se refugiava dos foguetes da festa está vazio, a manta velha conserva
Quase tanto dele como a memória, uns quantos pêlos, faltam os olhos comidos pelos vermes como
O verme que o matou, nem sei se me revolte contra a morte se contra os seus dedos conscientes
E vivos, conheço mil e uma causas que levam um coração a parar, mas nunca compreendi as suas
Razões, é sempre um erro tentar encontrar o que motiva um músculo independente que por teimosia rasga
Os dias com vida e sangue, resta engolir, o sangue, até ficar doente e vomitá-lo depois negro,
Em linhas finas e irregulares que tentam dar um sentido à perdição, bebe-se, fuma-se e fode-se
Sem cuidado ou moderação, encosta-se a vida à parede como se fosse a própria morte, mas esta
Com sugestões atrás da orelha, vai que eu não sou para ti, tu imortal e o bidão vazio à espera
Do medo e do frio, dos olhos no infinito, a culpa disto tudo é dos poetas que tratam a eternidade
Com a mesma familiaridade com que tratam as palavras e a prometem como prometem o amor,
Com o mesmo convencimento que são capazes de trazer a carne toda ao pêlo que ficou agarrado
À memória, mas é mais real o ladrar de um cão assustado pelo quase silêncio da noite de últimos
Candeeiros da vila, que todos os poemas do mundo, a noite chega sempre ao fim,
Mas nem sempre o dia vem para lavar todas as suas sombras.

09.03.2013

Turku

João Bosco da Silva

O Sabor Do Sol

Engolir lentamente o café quente que cai no estômago vazio enquanto a pele sedenta se engasga com
A luz do Sol, a ligeira pressão das hastes dos óculos na têmporas que os anos tornam pálidas,
Sentir o ar fresco da manhã no início da tarde, inspirar fundo até ao alvéolo mais profundo a vida
Que nos morre, sem pensar nisso, e a vida sabe bem, estar sentado a olhar para o horizonte geometricamente
Recortado pela cidade, sem esperar nada das horas que tomarão o lugar desta, sabe bem, os
Sonhos ficaram a incomodar a almofada que ainda cheira a sono e insónias, na vida, só há uma coisa simples
Que dói, a ausência, a morte, dos outros, entretanto o Sol esconde-se atrás do edifício vizinho,
No fundo da chávena só o açúcar a manter entre os cristais a memória do café e uma mosca inerte,
Agarrada à esperança de uma primavera que chegará para lhe varrer o exoesqueleto, um sol que nunca será dela.

Turku

07.03.2013

João Bosco da Silva

quarta-feira, 20 de março de 2013


Procuro Em Mais Uma Guinness A Ausência Das Tuas Pupilas

Procuro em mais uma Guinness a ausência das tuas pupilas, mas não vale a pena, todas
As febres tropicais, todas as viagens para regressar a lado nenhum, tudo trocado por um pouco
De nada, ou a ilusão de tudo, que acaba por ser o mesmo nas mãos dos sonhadores, tão ricos
Com os seus bolsos vazios, ou nem bolsos, nem bolsos, só uma fome que não engole nada,
Só a amargura de mais um gole escuro de solidão, o olhar num espelho vazio onde só se envelhece
Para dentro, onde ninguém mora, ninguém vive, um cemitérios de foste, de estiveste, de quiseste,
Um currículo rico em perdeste, deixaste e é-se apenas o que se lembra, tão pouco,
Na superfície do momento, uma descida às catacumbas da velhota assassinada por um engano
E condenada à presença constante do que a todos espera, dou a mão ao copo frio,
E sinto a transpiração de outros dias, no dedo que ainda salgado de não sei que secou,
As lágrimas ausentam-se nestes dias, dizem-se inúteis nos dias escuros, ninguém as vê,
Só se engolem e só as sente o estômago castigado pelas fomes acumuladas nas madrugadas
No fim dos dias longos, que se vestem de noite para acalmar e atormentar, dependendo
Do preço que estamos dispostos a pagar, no fundo, o copo vazio, os pregos a trancar
O caixão vazio pela eternidade fora, cheio da gente que se foi, com todo o nada que enche um copo,
Mas de pupilas nada, só o sonho, como algo que realmente se morreu ao se ter vivido,
Os lábios recusam a língua, então cala-se mais um poema, para incomodar o ruido do mundo.

Turku

20.03.2013

João Bosco da Silva

segunda-feira, 18 de março de 2013


Não Sei Para Que Me Morreste Porque É Inútil

para o meu avô,

Não sei para que me morreste, mas também nunca percebi a morte, ou a vida, para quê uma se
A outra está para reduzir tudo a nada, nem cinzas, e os ossos anónimos não fosse o nome sobre
O qual as lágrimas dos que ficaram a ser menos e cada vez menos, não sei para que me morreste,
A égua já deve estranhar a tua ausência, porque hoje não é Domingo e tu de gravata, deitado, a estas
Horas, sem teres bebido gota de vinho e quero acreditar que por isso tão sossegado, não sei onde
Irei depois da festa do Verão amanhecer, agora que a carroça ficará de pernas para o ar e a madeira
Desistirá e cederá todos os anos que aguentou, ao caruncho e os melões ficarão a apodrecer, a vinha
Morrerá de sede do teu suor e o teu vinho não voltará a encher aquela caneca que parecia ir ficar
Pela eternidade fora em cima da lareira, do teu lado pelas noites frias fora, dos rigorosos Invernos
Da terra esquecida pelo país a que dizem que pertence, não sei para que me morreste, mas desculpa
Contrariar-te e roubar um pouco de ti que guardarei até eu morrer para os outros, podes fechar os
Olhos, podes não voltar a contar-me com orgulho a história do jogo da sardinha, que fui eu
Que escrevi nos teus olhos que não sabiam ler, junto à mesma lareira, podes não voltar a fazer batota
Na bisca dos nove, podes esquecer-te de mim, obrigado, eu sei como funcionam as sinapses e é
Na sua união que vive a alma, podes morrer-me, mas prometo-te e que me desculpe a morte,
Que os raios partam, que nunca te deixarei morrer de todo, não enquanto nas minhas veias correr
O teu sangue, não enquanto o dia me permitir acordar e ter saudades tuas, sentado debaixo daquela
Macieira, enquanto as vacas pastavam, com um pedaço de cortiça e uma faca nas mãos,
Com o teu ar de eternidade, as tuas mãos de raíz de castanheiro e cepa e da cortiça dois
Bois e eu convencido que era o neto de um deus real, por isso perdoo o teu coração humano, cansado
Pelos anos, calejado pelos dias, não sei para que me morreste, porque é inútil, nunca me morrerás.

Turku

02.03.2013

João Bosco da Silva

A Madrugada É Material Mutagénico

Um deus espirra uma incerteza e nasce um poeta, cheio de vazios e outros desvios
Que levam a lado nenhum, onde o mais profundo da alma se encontra com as chamas
Embriões de infernos como os de Dantes e os de agora, que são os mais reais,
Mais que a vizinha do andar de cima a aspirar o leite de mais um achado no bar da esquina,
Que só se imagina como será, um dia um encontro no elevador e o hálito a desconhecido,
Seria mais certa a canonizacão de Chuck Norris que acender mais uma fogueirinha no Vaticano,
Chega de queimar bruxas para cobrir múmias de poderes invisíveis, tanto desperdício
Onde não há carne e a carne tão vazia, pede uma e outra, todas as esferinhas tailandesas
A tornarem-se versos, numa desfermentacão de vinho para uvas, umas gota de água benta
Na cara em forma de ejaculação acumulada pelas obrigações tântricas pelas semanas
Das semanas, até à libertação das DSTs pelo corredor de merda dentro, como uma benção
Irónica, ou uma maldição bem intencionada, dá-me um beijo, pede depois do espirro
E a sua boca ainda adstringente onde futuros se sacrificam pela excitação da humilhação,
Quem diz deus, diz deusa e é indiferente qual o espasmo que expele, às vezes vomita
E mais um poeta, daqueles que passa a vida a digerir-se em versos para meter nojo ao mundo
Que já por si repugna, espera o último autocarro, pode ser que já não haja luz naquela janela.

10.03.2013

Turku

João Bosco da Silva