segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Epifania Na Aurora Do Fim ou Este Amor Que Me Minto

Este amor que me minto, como se fosse a última oportunidade de redimir todos os fracassos,
Neste que se prepara para me esmagar como todas as ilusões anteriores, como aquela
Mensagem, depois do poema de Caeiro, à minha namorada, perguntava ele, a nossa Sofia dizia ela
Imaginando nos meus sonhos uma casa rural, onde todos os livros que lemos e queríamos ler,
E nós velhos e sábios, com todas as respostas às questões que nasceram sobre as mesas daqueles
Cafés da invicta, a cor do seu cabelo a mesma que esta mentira, que rasgo na pele,
Como se isso a tornasse verdadeiramente sentida, como se podem vestir com os mesmos sonhos,
Se esses sonhos apodrecidos, perdidos, esquecidos nos olhos semicerrados ao parecer que a felicidade,
Mas só a luz da ilusão, ao acordar de um sono demasiado longo, onde a carne em excesso
Fez esquecer o valor das ideias, mas as ideias mentiras, como este amor uma ideia,
Que escrevo em diferentes papéis e assino com diferentes nomes, só a cor do cabelo a mesma,
Entretanto foram lidos outros livros, e a dor que ficou a latejar nos lábios, deixou de se sentir
Por debaixo de outros beijos, todos diferentes, mas as mamas também as mesmas, que a minha
Negligência perdeu, depois de ter vencido a precocidade de um casamento, nas minhas patas
De cão danado, demasiado pequenas para todo o desejo rosado, contra o seu carro velho, à beira
De uma seara de trigo, eu todo tesão e a cegueira de um cérebro afogado em serotonina,
Usando aquele nome que era rodeado por um coração estilizado nas capas dos cadernos
Do sexto ano, como uma masturbação assistida, és o meu segundo, só o meu marido,
E eu com a emoção de uma erecção ao acordar e ela a acreditar que eu mais que esperma
A escorrer dela manchando os bancos de trás, as mesmas mamas contra o meu peito na
Canícula de Agosto, e eu entre as cuequinhas vermelhas dela, que se abrem à frente
E ela impossivelmente húmida naquele calor seco de brisas amarelas, estou tão molhada,
Não acreditando nela própria nem nos meus dedos cheios dela na sua boca, anda já,
E surpreendo-me sempre que me empurram para dentro do seu cu e me esmagam com a vontade
E amo essa mentira, quando me exigem esperma, quero que te venhas na minha boca, ou
Nem me permitem outra opção e drenam-me, demasiados nomes para caberem numa só palavra,
Este amor por retalhos que encontro todos numa única mentira, onde dou os nós que dei
A todos os fracassos, cujos nomes procuro na carne anónima de mais uma noite demasiado fria,
Gostas de me sentir molhada, já nem sei de quem a voz, ecos, procuro encontrar aquela mulher feita
De palavras e que faz nascer poetas e depravados, que vão dar ao mesmo, procuro dar-lhe
Carne
E minto-me nessa carne, dou-lhe o nome que só dentro lhe grito e ignoro a verdadeira cor
Dos seus olhos até me aliviar do desespero de nunca encontrar nada mais do que mentiras
Que me minto, que me faço acreditar como verdades, e provavelmente esta lucidez é
Consequência do sono de anos, do cansaço que não permite asas à imaginação,
São epifanias assim que nos protegem das cordas de estender a roupa e nos trazem o sangue
À carne, à carne que sacode todos os sentimentos, tudo que não lhe saiba a metal, ou sal, ou
Algo verdadeiro e frio, são epifanias assim que nos matam velhos, secos e amargos,
Um dia acordarei e não conseguirei encontrar-lhe o nome e então direi apenas, amor.

16.11.2012

Turku

João Bosco da Silva