domingo, 22 de maio de 2011


Vomitar Com Sinceridade


Não há ninguém capaz de falar nos olhos neste mundo de aparências,

Tão difícil dizer, não, não é, é horrível, mas deixa crescer, ainda não,

Ou pelo menos silêncio, já há muito barulho no convés da hipocrisia,

Já há suficiente vazio enquanto as turbinas começam a varrer as ilusões

Deixando a descoberto tudo aquilo que somos e somos tudo menos o pouco

Nada que se leva em duas malas cirurgicamente pesadas, comprimidas

Como a saudade que se vai expandindo com o esticar dos segundos pelo ar pesado.

As noites deixam-se cair, escuridão em avalanche, mesmo que o dia persista,

Encontros de uma noite, para o nada, como a vida, uma luz na escuridão,

Tão repetidamente questionada a razão, quando é apenas uma: vivê-la,

Não esperar, porque se tem a eternidade e a eternidade não é de ninguém,

A não ser que mártir ou o anti-cristo e eu prefiro o anonimato dos meu inferno pessoal.

Mesmo que venha um colapso no meio de uma multidão, olhos cegos,

Longe da sífilis de Nietzsche, sem o chumbo a espalhar sumo de laranja, escritor e chumbo

Numa parede em Idaho e o peru já está pronto Sylvia, tira daí as ideias,

Serei mais uma luz invisível que se apaga e com sorte ficarão umas palavras

Que não serão o que quiseram ser, emoções que pingam dos dedos

Para olhos secos, que só vêem o que dentro, não se podem condenar,

Somos animais para dentro, por isso sabe tão bem entrar dentro dos outros

E não há nada melhor, poesia mais directa que ver a transformação

De um sorriso num gemido, uma boca silenciosa numa gata assanhada,

Uma santa hipócrita numa puta sincera, abre-se o abismo e tem-se por minutos

A noção do infinito, que se perde, enquanto o suor ainda escorre e futuros nadam

Em direcção às possibilidades infinitas que se perdem na descarga do autoclismo.




22.05.2011



Turku



João Bosco da Silva