terça-feira, 1 de março de 2011



Erro de Ser


«in the words of Goethe or Blake

Or whichever it was “The pathway to wisdom

Lies through excess”»


Jack Keroauc, in Big Sur


desculpem-me


Agora pergunto-me o que correu mal e tenho medo da resposta que encerro

Nos meus lábios cerrados, nos meus olhos que procuram uma distracção

Na paisagem, nos meus dedos que agarram desesperados uma salvação de carne.

Só não sei o que me salvou, já que eu vazio de sonhos e quando caminhava

Ia distraído olhando os pés, sem interesse pelo horizonte em frente.

Se houve culpa no mundo, foi apenas a culpa do meu mundo,

Do que eu criei, mas muito dele foi criado como um deus cria um mundo: sem consciência.

O que correu mal… perder algures o interesse pelo que fosse, porque tudo parecia

A eterna repetição de algo que perdeu a magia na primeira vez;

Dar-me conta, de que não vale a pena regressar quando quem regressa é um desconhecido;

Deixar de me importar por cada novo dia, sempre o mesmo;

Deixar de acreditar nas ideias vazias que me impuseram e me arrastaram,

Nas emoções, que dissecadas, não passam de fome, sede e cio;

Agarrar-me a momentos com todo o meu tempo possível e ficar de mãos vazias e só na escuridão;

Ter a consciência de tudo ao mesmo tempo, sabendo que não há salvação

E que quanto mais se quer ou mais se ama, maior será a dor, porque tudo é vida e a vida acaba.

Agora pergunto-me, se fechar os olhos depois de ter visto realmente e saltar

Para a perdição inevitável, agarrando tudo o que é possível agarrar na queda, é realmente um erro.

O que correu mal, foi não ter tido medo, nem durante um segundo,

Foi sentir que está tudo feito antes de chegar o fim e perguntar, E Agora.

O erro de ser foi quando cansado perguntei, Para Quê.

Deixei-me cair, gota a gota, desleixado, negligenciando tudo e todos,

Até o charco de sangue repugnar quem se manteve inocente,

Apesar da infelicidade que os anos acumulam no cabelo da gente.

Afastei o meu corpo de alma moribunda para longe do meu cemitério

E agora espero que o fim venha do seu atraso, para pôr um ponto final

A todo este ser sem mais fim.



Turku



01.03.2011



João Bosco da Silva