domingo, 9 de maio de 2010


A Ponte Que É Uma Ilha Quando Se Quer

Da ponte romana só saímos quando a vontade nos chegar,
Só quando o luar acabar, o rio deixar de correr,
Os corações se cansarem de bater e a amizade, que é imortal, morrer.
Em cima da ponte a acrescentar ao rio, gozar a vida a cair,
Enquanto caimos juntos na inevitabilidade do futuro que ameaça e é sempre presente.
A luzes atravessam e nós indiferentes, dentro vão apagadas
E nem dão pela ponte que passam, nem pela água que corre em baixo,
Nem pelos sonhos que ali nasceram e morreram, noutras tardes antes de outras noites,
Quando eramos maiores nas mãos que esperavam o que vinha.
Veio e tão pequeno e pesado que não se sabe se vale a pena aguentar,
Não fosse o poder de evocar os ecos que já tinham desaparecido
E ressuscitar os sorrisos que pareciam ser os últimos sinceros.
Lembras-te daquela vez? Lembro, está a acontecer.
Morrer é como entrar amanhã no bar,
Sem saber que hoje lá vou estar e perguntar, ontem estive cá?
Morrer é só esquecer que se viveu, sem pontes para lado nenhum,
Sem a brisa fresca da primavera em cima de um rio,
Onde se podem ouvir as crianças que fomos na água,
Em verões que deixamos para ser estes tão pobres de sonhos.
Olhemos as estrelas que são as únicas que tem idade suficiente
Para nos iludirem com a eternidade,
Olhemos a escuridão que nos esmaga como insectos
Com um grito de quem está vivo e é uma força individual.
Cá estamos, em cima da ponte de tantos mortos para que hoje nós,
Em cima dela, à espera da vontade para chegar ao outro lado,
Mas hoje virá tarde, hoje virá só quando o luar acabar, o rio deixar de correr,
Os corações se cansarem de bater e a amizade, que é imortal, morrer.

09.05.2010

Savonlinna

João Bosco da Silva