sexta-feira, 19 de março de 2010



Liberdade

a Christopher McCandless

Não sei o que me dizem os olhares silenciosos,
Que se cruzam comigo sempre que estou na rua.
Não me chamam pelo meu verdadeiro nome,
Não sabem o meu real tamanho, mas continuam a afirmar,
Que eu isto e eu aquilo, quando eu nada do que dentro deles.
Não me dizem para ser livre,
Dizem-me que esperam que eu seja assim e de outra forma,
Porque esperam que assim seja,
Como se deuses, eles todos, uma massa a fazer de deus,
A enganar-me com um livre-arbítrio falso,
Quando só posso escolher entre o que eles oferecem.
Não sei o que os olhares esperam,
Não sei por que eles esperam algo de mim,
Eu que não lhe vivo dentro.
Querem que eu preto ou branco,
E eu cinzento no vazio dos seus olhos sem fundo,
Que não conseguem reconhecer a minha cor real.
Não sei o que me dizem aqueles dedos barulhentos,
A desenhar no ar realidades que não exitem,
Que não podem existir.
Não me apontam para o caminho que eu quero,
Eu que não quero nenhum caminho,
Não quero ter que escolher,
Simplesmente porque não tenho que escolher.
Continuar está bem, basta a interrupção inevitável.
Cumpri com o que esperavam
E nunca me senti fiel aos meus desejos,
Cumpri e nem os conhecia,
Aos dedos, aos olhos, tantos, a fazerem de deus,
De lei que não está escrita em nenhum lado,
Nem faz sentido algum,
Mas tem que se cumprir,
Porque assim esperam.

19.03.2010

Savonlinna

João Bosco da Silva